Talvez você já a conheça pela sua famosa frase: "Não se nasce mulher, torna-se mulher". Uma das percursoras da segunda onda do feminismo, Simone de Beauvoir pode ser definida em muitas palavras: mulher. francesa. escritora. filósofa. ativista. feminista. entre outras tantas. Nascida em 9 de janeiro de 1908, em Paris, cresceu dentro de uma família tradicional e instruída dentro dos padrões da época, sendo ensinada a ser uma boa esposa, dona de casa, recebendo educação para ser considerada letrada.
Mas desde criança ela demonstra tamanha paixão pela leitura e desenvoltura nos estudos que na juventude deixa de lado a vida tradicional e inicia a vida acadêmica na faculdade de filosofia em Sorbonne. Durante seus anos de faculdade conhecera pensadores como Maurice Merleau-Ponty, Claude Lévi-Strauss e Jean-Paul Sartre (sendo esse último seu companheiro de vida), dos quais os pensamentos diversas vezes influenciaram seus trabalhos. Juntamente com esses colegas fundaram o jornal "Les Temps Modernes" e disseminaram a filosfia do existencialismo, que consiste em focar o estudo do ser humano e o mundo no existir e não na essência ou um poder fora ou anterior à existência.
Acima: Beauvoir com seu companheiro, o filósofo Jean-Paul Sartre
Durante sua carreira acadêmica, Beauvoir foi professora e teorista, mas ela e seus companheiros de época não ficavam somente nas palavras, eram ativistas nas suas causas. E a partir dos anos 70, após se declarar oficialmente feminista, a filósofa começa a participar de mais protestos relacionados com a causa, como o aborto, igualdade de direitos e em defesa de vítimas de violência e de estupro (como no caso de Djamila Boupacha, sobre o qual Beauvoir escreveu um livro escrito sobre e tu pode saber mais aqui).
Dentro do feminismo, seu papel fundamental é inegável. Segundo Carla Rodrigues (2015) "A primeira grande contribuição da filósofa foi perceber que a mulher tinha sido reduzida, desde o início da modernidade, ao lugar de outro do homem, excluída do conceito supostamente neutro e universal de humano, sob o qual, de direito, estava abrigado apenas o homem". E com isso surgiu uma das obras que é base das teorias feministas até hoje: o livro "O Segundo Sexo", que dividido em duas edições trata, primeiramente, da teoria sobre o papel e a existência da mulher dentro da sociedade e em um segundo a partir de experiências de mulheres vividas pela própria autora e por outras mulheres que lhe enviavam suas vivências por correspondência.
Beauvoir durante sua vida escreveu mais de 20 livros, sendo o mais popular o livro "O Segundo Sexo", citado anteriormente. Mas entre os genêros explorados por ela estavam, também, a ficção (como "Os Mandarins" que inclusive ganhou o prêmio Goncourt, o maior reconhecimento de literatura francês), e a autobiografia - tal qual "Memórias de uma moça bem-comportada".
A autora viveu até seus 78 anos, nunca parando escrever e dissiminar suas ideias. Sua herdeira, Sylvie le Bon de Beauvoir, é a responsável por perpetuar os pensamentos da intelectual nos dias atuais, tendo inclusive lançado uma obra póstuma: "As inseparáveis", que narra de maneira ficticia a juventude de Beauvoir com sua melhor amiga Zazá. Definitivamente, ela foi uma mulher a frente de seu tempo que deixara como legado obras que dialogam com as realidades da sua época e com a atual.
Para conhecer mais:
Entrevista com Simone de Beauvoir (1959, disponível no youtube)
Simone de Beauvoir, l'aventure d'être soi (Documentário, 2021)
Simone de Beauvoir: Uma vida - Kate Kirkpatrick
Memórias de uma moça bem comportada - Simone de Beauvoir
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